terça-feira, 18 de setembro de 2007

Ser ou não ser uma mulher fácil?

(por Stella Florence, crônica da revista Criativa)

Não seja uma mulher fácil, minha filha. Nós crescemos ouvindo isso, não é mesmo? E, como boas meninas, obedecemos. Nos tornamos tão difíceis, mas tão difíceis que nos perdemos até do nosso próprio desejo.Quantas vezes você esteve a fim de um cara, suficientemente a fim para a noite não terminar na porta do seu prédio, mas não o chamou para subir apenas por medo de parecer uma moça fácil? Com medo de ele não te procurar de novo? Com medo do que ele iria pensar de você? Não sei você, mas eu acho que nós estamos vivendo com medo demais.
Então eu tenho boas e más notícias. A má notícia é que você perdeu várias oportunidades de ser feliz, perdeu seu tempo, com essa coisa de ser difícil - difícil, em primeiro lugar, para si mesma. A boa notícia, oba, é que os homens não se importam com o fato de uma mulher transar ou não na primeira noite. Um homem de verdade, que não seja criança nem babaca, não vai te julgar depreciativamente por transar na primeira noite, nem vai deixar de ter algo sério com você baseado na velocidade com que você tirou a roupa.
Conforme eu já disse nessa coluna, meus amigos me juram de pés juntos - não um, não dois, mas vários deles - que se um homem não te procura para uma segunda noite, se ele desaparece, é porque, antes mesmo de transar, ele já não estava muito a fim de você. Não haveria uma segunda noite de qualquer maneira ou, em bom português, ele só estava a fim de dar umazinha. E como é que você vai saber quando a coisa é para valer e quando não é? Aí é que está: você não vai saber. Por isso o único jeito é viver. Se preservar em nome da regra arcaica "não seja uma mulher fácil" só te protege, te afasta e te esconde de uma coisa: do seu próprio desejo.
O termo "dar" às vezes engasga na minha garganta. Tudo bem, eu uso, você usa, todo mundo usa, não sejamos radicais, mas pensando um pouco sobre o seu significado, parece que os homens comem e as mulheres dão, eles ganham e a gente perde. Será que é verdade? Claro que não. Sexo é troca. Ambos dão, ambos recebem, mix total de intenções e braços e pernas. Portanto, não há um conquistador e uma conquistada, um guerreiro e uma vítima, alguém que ganha e alguém que perde. O que há são pessoas adultas que se conhecem, se sentem atraídas uma pela outra e decidem ou não passar aquela primeira noite juntos.
O escritor William Faulkner disse: "Escrever é fácil ou é impossível". Estar com alguém também deveria ser assim: fácil, quando se deseja, impossível, quando não. É válido dar um tempo para conhecer o outro? É bom querer saber onde se está pisando? É útil se certificar de que a experiência não será uma fria completa? Sem dúvida! O que não é válido, nem bom, nem útil é podar seu desejo apenas por medo de ser considerada uma mulher fácil.
Quando minha filhinha crescer, eu já sei o que vou ensinar a ela: meu amor, seja uma mulher fácil. Fácil, em primeiro lugar, para você mesma.


(Stella Florence tem 1 filha, 30 tatuagens e 6 livros deliciosos como, por exemplo, “Hoje acordei gorda”, “Ser menina é tudo de bom!” e “O Diabo que te carregue!”. Stella é cronista e dá palestras por todo o país.)

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