quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Envolvimento sem regras


(Stella Florence)


Na busca por um namorado, eu ouvi dos meus amigos sempre os mesmos conselhos. Sou capaz de repeti-los palavra por palavra, tantas foram as vezes em que eles foram martelados na minha cachola: "Stella, você é muito intensa! Não pode dar na primeira noite, não pode falar o que sente e quer, não pode ser direta desse jeito... Só quando você desencanar dessa ideia de encontrar alguém é que a coisa vai rolar". Diante de tal ladainha - cujo resumo você acabou de ler - minhas respostas não variavam:

1. Ser intenso é um traço de personalidade, não um sinônimo de ciúme e sufocamento a dois (arght!). Se eu fingir que não sou intensa, quem conquistará o homem que me interessa será uma personagem, não eu. E quando eu me mostrar de fato - coisa que cedo ou tarde acontecerá - qual não será o susto desse homem ao topar com um cavalo selvagem sob a tempestade em vez do pônei no jardim da Scarlett O'Hara, com o qual eu o seduzi?


2. Se eu estiver a fim - de sexo, de me enganar, de amar alguém -, eu vou transar na primeira noite. Experiências surpreendentes (para o bem e para o mal) e até mesmo carregadas de emoção (para o bem e para o mal) podem acontecer numa transa imediata. Além disso, se um cara me julgar pela velocidade com a qual eu tirar minhas roupas - coisa que ele tem todo direito de fazer -, pode crer: não vai dar certo.

3. Quanto a desencanar de encontrar alguém, bem, então vou terminar meus dias sozinha, porque acho uma sacanagem dos deuses alguma coisa boa só rolar quando a gente já sofreu tanto, mas tanto, mas tanto que chegou a ponto de desistir.

Eu me recusava - e me recuso - a acreditar numa maneira certa e outra errada de se procurar um namorado. Se as pessoas não são iguais, por que a procura romântica deve obedecer a um padrão? Dessa forma, os embates entre mim e meus amigos seguiam, enquanto minha lista de decepções, desencontros e foras ia aumentando. Verdade que, em menos de uma semana, eu caía em mim e dava graças a Deus pelo mais recente barco-gajo ter naufragado. Todos os homens que passaram pela minha vida nos últimos dois anos foram fragorosamente esquecidos - mas estocados no arquivo morto para textos futuros (claro que os que se tornaram meus amigos estão fora dessa lista).
Até que há algumas semanas, como uma bela resposta que o destino me devia, conheci um homem que, no espaço de algumas horas, despejou o seguinte discurso no meu colo: "Eu sou intenso e sei logo de cara se quero ou não ficar com alguém. Quero ficar com você. Não só hoje - e não ouse achar que eu estou blefando só para te levar para a cama. Li uma crônica sua em que você falava sobre não aceitar migalhas românticas. Eu quero namorar - e não aceito migalhas".
Enquanto eu o ouvia, pensei: "Esse cara é tão doido quanto eu". Mas, hoje, posso dizer que Camilo não é doido. Ele foi apenas ele mesmo: direto e intenso. Confesso que, depois daquela conversa, fiquei meio assustada: foi como provar do meu próprio veneno. Fui para casa. Pensei, pensei, pensei. Depois resolvi que, melhor do que ficar pensando, era ficar pensando enquanto sentia o cheiro da pele dele: uma mistura de índios Mapuche com italianos. Então, aquele medo inicial passou. E todas, todas, todas as teses dos meus amigos caíram por terra.


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