terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Conselho de uma lagarta


A Lagarta e Alice olharam-se uma para outra por algum tempo em silêncio: por fim, a Lagarta tirou o narguilé da boca, e dirigiu-se à menina com uma voz lânguida, sonolenta.

"Quem é você?", perguntou a Lagarta.

Não era uma maneira encorajadora de iniciar uma conversa. Alice retrucou, bastante timidamente: "Eu - eu não sei muito bem, Senhora, no presente momento - pelo menos eu sei quem eu era quando levantei esta manhã, mas acho que tenho mudado muitas vezes desde então.

"O que você quer dizer com isso?", perguntou a Lagarta severamente. "Explique-se!"

"Eu não posso explicar-me, eu receio, Senhora", respondeu Alice, "porque eu não sou eu mesma, vê?"

"Eu não vejo", retomou a Lagarta.

"Eu receio que não posso colocar isso mais claramente", Alice replicou bem polidamente, "porque eu mesma não consigo entender, para começo de conversa, e ter tantos tamanhos diferentes em um dia é muito confuso."

"Não é", discordou a Lagarta.

"Bem, talvez você não ache isso ainda", Alice afirmou, "mas quando você transformar-se em uma crisálida - você irá algum dia, sabe - e então depois disso em uma borboleta, eu acredito que você irá sentir-se um pouco estranha, não irá?"

"Nem um pouco", disse a Lagarta.

"Bem, talvez seus sentimentos possam ser diferentes", finalizou Alice, "tudo o que eu sei é: é muito estranho para mim.

"Você!", disse a Lagarta desdenhosamente. "Quem é você?"


(Alice no país das maravilhas/Lewis Carrol)

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Fim de namoro

Sempre é ruim... Triste... Muitas vezes alivio p/ uns, mas p/ o outro lado tristeza...
As vezes dificil p/ os dois...
Confesso que não estou feliz... Mas me dê um tempo que estarei melhor.

Aqui, eu prefiro não dizer mais nada sobre isso. Deixo apenas a musica de Almir Sater p/ terminar esse momento e depois voltarei p/ recomeçar um outro...

:)


Ando devagar porque já tive pressa
Levo esse sorriso porque já chorei demais
Hoje me sinto mais forte, mais feliz quem sabe
Só levo a certeza de que muito pouco eu sei
Eu nada sei

Conhecer as manhas e as manhãs,
O sabor das massas e das maçãs,
É preciso amor pra poder pulsar,
É preciso paz pra poder sorrir,
É preciso a chuva para florir

Penso que cumprir a vida seja simplesmente
Compreender a marcha e ir tocando em frente
Como um velho boiadeiro levando a boiada
Eu vou tocando os dias pela longa estrada eu vou
Estrada eu sou

Todo mundo ama um dia, todo mundo chora,
Um dia a gente chega, no outro vai embora
Cada um de nós compõe a sua história
Cada ser em si carrega o dom de ser capaz
E ser feliz

(Tocando em Frente/Almir Sater)

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Relato de um homem


" Tudo bem... queremos meninas legais, sexys, saradas, bonitas, inteligentes e boazinhas... Muito FÁCIL falar, pois quando aparece uma assim, de bandeja, a primeira coisa que a gente pensa é: oba, me dei bem. Ficamos com elas uma vez, duas. Começamos a pensar que essa é a mulher que as nossas mães gostariam de ter como noras. Se sair um relacionamento, vai ser uma relação estável. Você vai buscá-la na faculdade, vocês vão ao cinema, num barzinho, vai ter sexo toda a semana... Tudo básico, até virar uma rotina sem graça... Você vai olhar os caras bem vestidos e bem humorados indo pra noite arrasar com a mulherada e vai morrer de inveja. Vai sentir falta de dar aquelas cantadas infalíveis na noite, falta de dar umas olhadas pra uma gata, ou de dar aquela dançadinha mais provocativa na pista... Você pensa: acho que não estou pronto pra isso, pra me enclausurar pro resto da vida nesse relacionamento.

E a boa menina se transforma numa MALA , e aos poucos vai surgindo um nojo dela, uma aversão. Quando você vê o nome dela no celular não dá vontade de atender... JÁ ERA. Daí aquela promessa de uma vida estável vai por água abaixo, e se a menina não se dá conta, a gente começa a ser grosso, muito grosso. E a pobre menina pensa: o que foi que eu fiz ?? Coitada, ela não fez nada, a culpa é nossa mesmo... Aí a gente volta pra nossa vidinha, que a gente odiava até semanas atrás. A gente não vê a hora de sair e arrasar na noite... ou pegar aquela mulher gostosona que sempre quisemos.

GRANDE DESILUSÃO. Você chega em casa depois da balada, sozinho e fica tentando descobrir porque não está satisfeito. De repente foi porque a menina da night, a linda, gostosa, misteriosa, ficou contigo e nem sequer pediu o número do seu telefone...

FRUSTRAÇÃO. Daí, por mais que você não queira, você pensa na sua menina boazinha que você deixou pra trás... ela podia ter seus defeitos, mas era uma menina legal... que ficaria ao seu lado te dando valor... Enquanto isso, a boa menina, chateada, lesada, custa a entender o que ela fez pra ter te afastado dela... Daí essa dúvida vira ANGÚSTIA, que vira raiva. Daí a menina manda tudo pra PUTA QUE PARIU !!!!!!!

Não quer mais saber de nada, só de sair, zoar, sair e beijar outros caras ! Resolve não se envolver mais, pra não sair mais uma vez lesada e machucada... Muito bem, acabamos de criar uma MONSTRA.

O tempo passa e continuamos na mesma... voltamos a reclamar da vida e das mulheres... Elas só querem as coisas com homens cachorros e não estão nem aí pra nós... ou será que nós é que fomos os cachorros???

Elas são assim por culpa nossa. A mulher da night de hoje era a boa menina de outro homem ontem, e assim sucessivamente... Provavelmente nossa ex-boa menina deve estar enlouquecendo a cabeça de outro homem por aí... E eu a perdi para sempre...

Ela virou uma mulher enlouquecedora, e a encontrei na balada. E ela? Nem olhou pra mim ( mas estava mais linda do que nunca! ) "

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

A paixão segundo G.H



Como tudo de Clarice é bom, esse livro não seria diferente.
Mas no momento de minha vida, esse livro basicamente me traduz.
Clarice tem isso, de você ler um trecho, uma frase, e sentir quase que uma violação interna do seu eu. Como se ela estivesse dentro de você e te descrevesse com palavras.

Um trecho do livro:

"Perdi alguma coisa que me era essencial, e que já não me é mais. Não me é necessária, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então me impossibilitava de andar mas que fazia de mim um tripé estável. Essa terceira perna eu perdi. E voltei a ser uma pessoa que nunca fui. Voltei a ter o que nunca tive: apenas as duas pernas. Sei que somente com duas pernas é que posso caminhar. Mas a ausência inútil da terceira me faz falta e me assusta, era ela que fazia de mim uma coisa encontrável por mim mesma, e sem sequer precisar me procurar."


Download do livro:

http://www.4shared.com/file/71533965/d171acd3/Clarice_Lispector_-_A_Paixo_Segundo_G_H.html?s=1

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Fica sempre um pouco de tudo


De tudo ficou um pouco
Do meu medo. Do teu asco.
Dos gritos gagos. Da rosa
ficou um pouco.

Ficou um pouco de luz
captada no chapéu.
Nos olhos do rufião
de ternura ficou um pouco
(muito pouco).

Pouco ficou deste pó
de que teu branco sapato
se cobriu. Ficaram poucas
roupas, poucos véus rotos
pouco, pouco, muito pouco.

Mas de tudo fica um pouco.
Da ponte bombardeada,
de duas folhas de grama,
do maço
― vazio ― de cigarros, ficou um pouco.

Pois de tudo fica um pouco.
Fica um pouco de teu queixo
no queixo de tua filha.
De teu áspero silêncio
um pouco ficou, um pouco
nos muros zangados,
nas folhas, mudas, que sobem.

Ficou um pouco de tudo
no pires de porcelana,
dragão partido, flor branca,
ficou um pouco
de ruga na vossa testa,
retrato.

Se de tudo fica um pouco,
mas por que não ficaria
um pouco de mim? no trem
que leva ao norte, no barco,
nos anúncios de jornal,
um pouco de mim em Londres,
um pouco de mim algures?
na consoante?
no poço?

Um pouco fica oscilando
na embocadura dos rios
e os peixes não o evitam,
um pouco: não está nos livros.
De tudo fica um pouco.
Não muito: de uma torneira
pinga esta gota absurda,
meio sal e meio álcool,
salta esta perna de rã,
este vidro de relógio
partido em mil esperanças,
este pescoço de cisne,
este segredo infantil...
De tudo ficou um pouco:
de mim; de ti; de Abelardo.
Cabelo na minha manga,
de tudo ficou um pouco;
vento nas orelhas minhas,
simplório arroto, gemido
de víscera inconformada,
e minúsculos artefatos:
campânula, alvéolo, cápsula
de revólver... de aspirina.
De tudo ficou um pouco.

E de tudo fica um pouco.
Oh abre os vidros de loção
e abafa
o insuportável mau cheiro da memória.

Mas de tudo, terrível, fica um pouco,
e sob as ondas ritmadas
e sob as nuvens e os ventos
e sob as pontes e sob os túneis
e sob as labaredas e sob o sarcasmo
e sob a gosma e sob o vômito
e sob o soluço, o cárcere, o esquecido
e sob os espetáculos e sob a morte escarlate
e sob as bibliotecas, os asilos, as igrejas triunfantes
e sob tu mesmo e sob teus pés já duros
e sob os gonzos da família e da classe,
fica sempre um pouco de tudo.
Às vezes um botão. Às vezes um rato.

(Drummond)

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Silêncio...


Um momento de silêncio para a minha tristeza...