domingo, 25 de novembro de 2007

Borboletas...



Borboletas são tão belas o que seria delas
se não pudessem voar?
O céu e as estrelas não poderiam vê-las passar
Lá fora eu vejo um mundo
e sinto lá no fundo
que aqui não é o meu lugar
Eu sou pequenininha e fico aqui sozinha a sonhar
O meu coração me diz
que um dia ainda vou ser feliz
Voar para bem longe como eu sempre quis
Um dia eu tive a chance de ter ao meu alcance
o que fez transformar
sonho em realidade, escuridão em brilho no olhar
Eu vi que na verdade
a dor um dia pode ter fim
Achei a liberdade, ela tava dentro de mim
O meu coração me diz
agora eu já sou feliz
Voei para bem longe como eu sempre quis

(Luciana Mello/Borboletas)


segunda-feira, 19 de novembro de 2007

EU TENHO UM SONHO


Discurso de Martin Luther King (28/08/1963)

"Eu estou contente em unir-me com vocês no dia que entrará para a história como a maior demonstração pela liberdade na história de nossa nação.

Cem anos atrás, um grande americano, na qual estamos sob sua simbólica sombra, assinou a Proclamação de Emancipação. Esse importante decreto veio como um grande farol de esperança para milhões de escravos negros que tinham murchados nas chamas da injustiça. Ele veio como uma alvorada para terminar a longa noite de seus cativeiros.
Mas cem anos depois, o Negro ainda não é livre.
Cem anos depois, a vida do Negro ainda é tristemente inválida pelas algemas da segregação e as cadeias de discriminação.
Cem anos depois, o Negro vive em uma ilha só de pobreza no meio de um vasto oceano de prosperidade material. Cem anos depois, o Negro ainda adoece nos cantos da sociedade americana e se encontram exilados em sua própria terra. Assim, nós viemos aqui hoje para dramatizar sua vergonhosa condição.

De certo modo, nós viemos à capital de nossa nação para trocar um cheque. Quando os arquitetos de nossa república escreveram as magníficas palavras da Constituição e a Declaração da Independência, eles estavam assinando uma nota promissória para a qual todo americano seria seu herdeiro. Esta nota era uma promessa que todos os homens, sim, os homens negros, como também os homens brancos, teriam garantidos os direitos inalienáveis de vida, liberdade e a busca da felicidade. Hoje é óbvio que aquela América não apresentou esta nota promissória. Em vez de honrar esta obrigação sagrada, a América deu para o povo negro um cheque sem fundo, um cheque que voltou marcado com "fundos insuficientes".

Mas nós nos recusamos a acreditar que o banco da justiça é falível. Nós nos recusamos a acreditar que há capitais insuficientes de oportunidade nesta nação. Assim nós viemos trocar este cheque, um cheque que nos dará o direito de reclamar as riquezas de liberdade e a segurança da justiça.

Nós também viemos para recordar à América dessa cruel urgência. Este não é o momento para descansar no luxo refrescante ou tomar o remédio tranqüilizante do gradualismo.
Agora é o tempo para transformar em realidade as promessas de democracia.
Agora é o tempo para subir do vale das trevas da segregação ao caminho iluminado pelo sol da justiça racial.
Agora é o tempo para erguer nossa nação das areias movediças da injustiça racial para a pedra sólida da fraternidade. Agora é o tempo para fazer da justiça uma realidade para todos os filhos de Deus.

Seria fatal para a nação negligenciar a urgência desse momento. Este verão sufocante do legítimo descontentamento dos Negros não passará até termos um renovador outono de liberdade e igualdade. Este ano de 1963 não é um fim, mas um começo. Esses que esperam que o Negro agora estará contente, terão um violento despertar se a nação votar aos negócios de sempre.

Mas há algo que eu tenho que dizer ao meu povo que se dirige ao portal que conduz ao palácio da justiça. No processo de conquistar nosso legítimo direito, nós não devemos ser culpados de ações de injustiças. Não vamos satisfazer nossa sede de liberdade bebendo da xícara da amargura e do ódio. Nós sempre temos que conduzir nossa luta num alto nível de dignidade e disciplina. Nós não devemos permitir que nosso criativo protesto se degenere em violência física. Novamente e novamente nós temos que subir às majestosas alturas da reunião da força física com a força de alma. Nossa nova e maravilhosa combatividade mostrou à comunidade negra que não devemos ter uma desconfiança para com todas as pessoas brancas, para muitos de nossos irmãos brancos, como comprovamos pela presença deles aqui hoje, vieram entender que o destino deles é amarrado ao nosso destino. Eles vieram perceber que a liberdade deles é ligada indissoluvelmente a nossa liberdade. Nós não podemos caminhar só.

E como nós caminhamos, nós temos que fazer a promessa que nós sempre marcharemos à frente. Nós não podemos retroceder. Há esses que estão perguntando para os devotos dos direitos civis, "Quando vocês estarão satisfeitos?"

Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto o Negro for vítima dos horrores indizíveis da brutalidade policial. Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto nossos corpos, pesados com a fadiga da viagem, não poderem ter hospedagem nos motéis das estradas e os hotéis das cidades. Nós não estaremos satisfeitos enquanto um Negro não puder votar no Mississipi e um Negro em Nova Iorque acreditar que ele não tem motivo para votar. Não, não, nós não estamos satisfeitos e nós não estaremos satisfeitos até que a justiça e a retidão rolem abaixo como águas de uma poderosa correnteza.

Eu não esqueci que alguns de você vieram até aqui após grandes testes e sofrimentos. Alguns de você vieram recentemente de celas estreitas das prisões. Alguns de vocês vieram de áreas onde sua busca pela liberdade lhe deixaram marcas pelas tempestades das perseguições e pelos ventos de brutalidade policial. Você são o veteranos do sofrimento. Continuem trabalhando com a fé que sofrimento imerecido é redentor. Voltem para o Mississippi, voltem para o Alabama, voltem para a Carolina do Sul, voltem para a Geórgia, voltem para Louisiana, voltem para as ruas sujas e guetos de nossas cidades do norte, sabendo que de alguma maneira esta situação pode e será mudada. Não se deixe caiar no vale de desespero.

Eu digo a você hoje, meus amigos, que embora nós enfrentemos as dificuldades de hoje e amanhã. Eu ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado no sonho americano.

Eu tenho um sonho que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado de sua crença - nós celebraremos estas verdades e elas serão claras para todos, que os homens são criados iguais.

Eu tenho um sonho que um dia nas colinas vermelhas da Geórgia os filhos dos descendentes de escravos e os filhos dos desdentes dos donos de escravos poderão se sentar junto à mesa da fraternidade.

Eu tenho um sonho que um dia, até mesmo no estado de Mississippi, um estado que transpira com o calor da injustiça, que transpira com o calor de opressão, será transformado em um oásis de liberdade e justiça.

Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter. Eu tenho um sonho hoje!

Eu tenho um sonho que um dia, no Alabama, com seus racistas malignos, com seu governador que tem os lábios gotejando palavras de intervenção e negação; nesse justo dia no Alabama meninos negros e meninas negras poderão unir as mãos com meninos brancos e meninas brancas como irmãs e irmãos. Eu tenho um sonho hoje!

Eu tenho um sonho que um dia todo vale será exaltado, e todas as colinas e montanhas virão abaixo, os lugares ásperos serão aplainados e os lugares tortuosos serão endireitados e a glória do Senhor será revelada e toda a carne estará junta.

Esta é nossa esperança. Esta é a fé com que regressarei para o Sul. Com esta fé nós poderemos cortar da montanha do desespero uma pedra de esperança. Com esta fé nós poderemos transformar as discórdias estridentes de nossa nação em uma bela sinfonia de fraternidade. Com esta fé nós poderemos trabalhar juntos, rezar juntos, lutar juntos, para ir encarcerar juntos, defender liberdade juntos, e quem sabe nós seremos um dia livre. Este será o dia, este será o dia quando todas as crianças de Deus poderão cantar com um novo significado.

"Meu país, doce terra de liberdade, eu te canto.

Terra onde meus pais morreram, terra do orgulho dos peregrinos,

De qualquer lado da montanha, ouço o sino da liberdade!"

E se a América é uma grande nação, isto tem que se tornar verdadeiro.

E assim ouvirei o sino da liberdade no extraordinário topo da montanha de New Hampshire.

Ouvirei o sino da liberdade nas poderosas montanhas poderosas de Nova York.

Ouvirei o sino da liberdade nos engrandecidos Alleghenies da Pennsylvania.

Ouvirei o sino da liberdade nas montanhas cobertas de neve Rockies do Colorado.

Ouvirei o sino da liberdade nas ladeiras curvas da Califórnia.

Mas não é só isso. Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Pedra da Geórgia.

Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Vigilância do Tennessee.

Ouvirei o sino da liberdade em todas as colinas do Mississipi.

Em todas as montanhas, ouviu o sino da liberdade.

E quando isto acontecer, quando nós permitimos o sino da liberdade soar, quando nós deixarmos ele soar em toda moradia e todo vilarejo, em todo estado e em toda cidade, nós poderemos acelerar aquele dia quando todas as crianças de Deus, homens pretos e homens brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, poderão unir mãos e cantar nas palavras do velho spiritual negro:

"Livre afinal, livre afinal.

Agradeço ao Deus todo-poderoso, nós somos livres afinal."



domingo, 18 de novembro de 2007

Olhos Azuis...



A professora e socióloga Jane Elliott ganhou um Emmy pelo documentário de 1968 "The Eye of the Storm", em que aplicou um exercício de discriminação em uma sala de aula da terceira série, baseada na cor dos olhos das crianças. Hoje aposentada, aplica workshops sobre racismo para adultos. "Olhos Azuis" é a documentação de um desses workshops em que o exercício de discriminação pela cor dos olhos também foi aplicado. O objetivo do exercício é colocar pessoas de olhos azuis na pele de uma pessoa negra por um dia. Para isso, ela rotula essas pessoas, baseando-se apenas na cor dos olhos, com todos rótulos negativos usados contra mulheres, pessoas negras, homossexuais, pessoas com deficiências físicas e todas outras que sejam diferentes fisicamente. Numa palestra com um auditório lotado, ela pergunta: "Se algum branco gostaria de receber o mesmo tratamento dados aos cidadãos negros em nossa sociedade, levante-se. (...) Ninguém se levantou. Isso deixa claro que vocês sabem o que está acontecendo. Vocês não querem isso para vocês. Quero saber por que, então, aceitam isso e permitem que aconteça com os outros."


Video dividido em 12 partes:



Olhos Azuis - 01

http://www.youtube.com/watch?v=bJLmP7s-7Gw

Olhos Azuis - 02


http://www.youtube.com/watch?v=OwfUeMIGfdk

Olhos Azuis - 03


http://www.youtube.com/watch?v=P6GcLu9h_Zw

Olhos Azuis - 04


http://www.youtube.com/watch?v=2OMF29mCdPM


Olhos Azuis - 05


http://www.youtube.com/watch?v=JvLqfrffIN8

Olhos Az
uis - 06

http://www.youtube.com/watch?v=Yu0C8mjufmg


Olhos Azuis - 07


http://www.youtube.com/watch?v=lQ3U8wp9ncU


Olhos Azuis - 08


http://www.youtube.com/watch?v=sKCqo_sofwo


Olhos Azuis - 09


http://www.youtube.com/watch?v=8TKNZ9zur9M


Olhos Azuis - 10

http://www.youtube.com/watch?v=nSba16NE1h4


Olhos Azuis - 11

http://www.youtube.com/watch?v=YLgtEu2q0ec

Olhos Azuis - 12 (final)


http://www.youtube.com/watch?v=OUaT1QWxRo8



quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Lavagem Cerebral


(Gabriel O Pensador)

Racismo preconceito e discriminação em geral
É uma burrice coletiva sem explicação
Afinal que justificativa você me dá para um povo que
precisa de união
Mas demonstra claramente
Infelizmente
Preconceitos mil
De naturezas diferentes
Mostrando que essa gente
Essa gente do Brasil é muito burra
E não enxerga um palmo à sua frente
Porque se fosse inteligente esse povo já teria agido
de forma mais consciente
Eliminando da mente todo o preconceito
E não agindo com a burrice estampada no peito
A "elite" que devia dar um bom exemplo
É a primeira a demonstrar esse tipo de sentimento
Num complexo de superioridade infantil
Ou justificando um sistema de relação servil
E o povão vai como um bundão na onda do racismo e da
discriminação
Não tem a união e não vê a solução da questão
Que por incrível que pareça está em nossas mãos
Só precisamos de uma reformulação geral
Uma espécie de lavagem cerebral

Não seja um imbecil
Não seja um Paulo Francis
Não se importe com a origem ou a cor do seu
semelhante
O quê que importa se ele é nordestino e você não?
O quê que importa se ele é preto e você é branco?
Aliás branco no Brasil é difícil porque no Brasil
somos todos mestiços
Se você discorda então olhe pra trás
Olhe a nossa história
Os nossos ancestrais
O Brasil colonial não era igual a Portugal
A raiz do meu país era multirracial
Tinha índio, branco, amarelo, preto
Nascemos da mistura então porque o preconceito?
Barrigas cresceram
O tempo passou...
Nasceram os brasileiros cada um com a sua cor
Uns com a pele clara outros mais escura
Mas todos viemos da mesma mistura
Então presta atenção nessa sua babaquice
Pois como eu já disse racismo é burrice
Dê a ignorância um ponto final:
Faça uma lavagem cerebral

Negro e nordestino constróem seu chão
Trabalhador da construção civil conhecido como peão
No Brasil o mesmo negro que constrói o seu apartamento
ou que lava o chão de uma delegacia
É revistado e humilhado por um guarda nojento que
ainda recebe o salário e o pão de cada dia graças ao
negro ao nordestino e a todos nós
Pagamos homens que pensam que ser humilhado não dói
O preconceito é uma coisa sem sentido
Tire a burrice do peito e me dê ouvidos
Me responda se você discriminaria
Um sujeito com a cara do PC Farias
Não você não faria isso não...
Você aprendeu que o preto é ladrão
Muitos negros roubam mas muitos são roubados
E cuidado com esse branco aí parado do seu lado
Porque se ele passa fome
Sabe como é:
Ele rouba e mata um homem
Seja você ou seja o Pelé
Você e o Pelé morreriam igual
Então que morra o preconceito e viva a união racial
Quero ver essa musica você aprender e fazer
A lavagem cerebral

O racismo é burrice mas o mais burro não é o racista
É o que pensa que o racismo não existe
O pior cego é o que não quer ver
E o racismo está dentro de você
Porque o racista na verdade é um tremendo babaca
Que assimila os preconceitos porque tem cabeça fraca
E desde sempre não para pra pensar
Nos conceitos que a sociedade insiste em lhe ensinar
E de pai pra filho o racismo passa
Em forma de piadas que teriam bem mais graça
Se não fossem o retrato da nossa ignorância
Transmitindo a discriminação desde a infância
E o que as crianças aprendem brincando
É nada mais nada menos do que a estupidez se
propagando
Qualquer tipo de racismo não se justifica
Ninguém explica
Precisamos da lavagem cerebral pra acabar com esse
lixo que é uma herança cultural
Todo mundo é racista mas não sabe a razão
Então eu digo meu irmão
Seja do povão ou da "elite"
Não participe
Pois como eu já disse racismo é burrice
Como eu já disse racismo é burrice
Como eu já disse racismo é burrice
Como eu já disse racismo é burrice
Como eu já disse racismo é burrice
E se você é mais um burro
Não me leve a mal
É hora de fazer uma lavagem cerebral
Mas isso é compromisso seu
Eu nem vou me meter
Quem vai lavar a sua mente não sou eu
É você



segunda-feira, 12 de novembro de 2007

"O culpado pela morte é quem mata."


Bom, aqui vai uma entrevista 'terceirizada'. rsrs
Estava no blog de Romulo Mafra
(http://www.omeninoquenaomachuca.blogger.com.br/) e li a entrevista do Caco Barcellos, falando sobre o filme Tropa de Elite.
Resolvi dar uma de macaca de imitação e colocar uma parte da entrevista aqui também.
Como concordo com Caco, acho importante a gente parar p/ pensar em algumas coisas. Antes de você ler a entrevista, queria enfatizar:

- Capitão Nascimento (Wagner Moura) herói?!
- Maconheiros são culpados pelas mortes do BOPE?!
- Repetindo a pergunta do Caco: "
Por que é legítimo agir com brutalidade em uma parte da cidade, não por coincidência onde estão os mais pobres, e não agir da mesma forma onde estão os ricos"?"


E é como disse o própio Romulo nos comentarios quando eu falei que um erro nao justifica o outro: "a frase que define o filme: "O culpado pela morte é quem mata." e devemos repeti-la como num mantra. do contrário, nossa sociedade cada vez mais
cairá numa merda que não teremos mais volta."


ATENÇÃO AÍ!!!


"OS 57 ANOS, ele é autor de Rota 66, que narra a ação da PM de São Paulo na matança de civis entre 1970 e 1992, e Abusado, que mostra a formação de quadrilha num morro carioca. No país que só fala de Tropa de Elite, o jornalista Caco Barcellos conta sua experiência de décadas com a (falta de) segurança públicas?

POR CLÁUDIA DE CASTRO LIMA FOTOS RUI MENDES

VOCÊ ASSISTIU A TROPA DE ELITE?
Ainda não consegui ver inteiro. Mas vi uns pedaços e estou acompanhando a repercussão.

E ESTÁ ACHANDO O QUÊ?
Acho interessante que as pessoas estejam falando sobre isso. Houve um tempo em que o país não discutia mais sobre segurança pública. Acho interessante que todo mundo tenha uma opinião a respeito disso. Mas a minha preocupação é no sentido de estarem enxergando o personagem central (Capitão Nascimento, interpretado por Wagner Moura) como um herói. E também me preocupo com o fato de ninguém ter discutido ainda as mortes provocadas pelo Bope (Batalhão de Operações da Polícia Especial do Rio de Janeiro). Muito está se falando sobre os métodos de atuação da polícia, sobre as torturas, o que é gravíssimo. Mas ninguém fala o essencial, que é a matança provocada pela polícia nessa área pobre da cidade. Como é o Bope quando atua no Leblon, em Ipanema? Usam aquele saco plástico na cabeça de alguém? Você conhece algum rico que foi morto pelo Bope?

NÃO, NUNCA OUVI FALAR.
Pois é. Em 30 anos de jornalismo, eu também nunca ouvi uma história assim. Nunca ouvi uma história sobre algum rico criminoso que tivesse sido morto por essa unidade especial da polícia. Se omitirmos esse dado, a discussão não é honesta. Veja que Tropa de Elite é um filme de ficção, o diretor tem toda a liberdade para tratar do que quiser na obra dele. Não quero que pareça que estou fazendo uma crítica ao filme. Mas é triste saber que a sociedade está escolhendo um matador para herói.

E O QUE ESTÁ ACONTECENDO COM ESSA SOCIEDADE?
Isso é muito antigo. A verdade é que as autoridades nunca utilizaram no Brasil o que há de mais inteligente e democrático na política de segurança pública. Muito se criticam os direitos humanos, as ONGs, mas nunca nenhuma das idéias, das propostas das pessoas que querem que as pessoas sejam respeitadas independentemente de sua condição econômica foram aplicadas. Desde o Brasil colônia, a polícia está aí para defender os interesses dos mais endinheirados. Desde sempre a sociedade legitimou ações brutais contra aqueles desprovidos de poder, seja econômico, seja político, aqueles desprovidos de cidadania. Se a brutalidade fosse interessante, a Rota já teria transformado São Paulo em um paraíso.

O QUE MUDOU ENTRE ROTA 66 E TROPA DE ELITE?
Muita coisa. A Rota fez escola, o Bope. Mas tem anos que a polícia de São Paulo mata
muito menos. Eram 1 500 pessoas em 1992, quando lancei o livro. Esse número baixou para 300. Mas a criminalidade de São Paulo não se alterou. Na verdade, a única coisa que mudou foi a redução no número de homicídios. É óbvio que, quando a polícia mata menos, a sociedade fica menos violenta. Em São Paulo, mais de 10% dos crimes de homicídio são praticados pela polícia. No Rio, esse número é mais alto, mais de 20%. Bastaria uma ação pública eficaz para que houvesse a redução do crime mais grave, que é o crime de morte.

EXISTE DIFERENÇA ENTRE AS POLÍCIAS MILITARES DE SÃO PAULO E DO RIO?
Nenhuma. Por que, por exemplo, a Polícia Federal, que é bem treinada, bem remunerada e trabalha com inteligência, não precisa provocar sequer um arranhão em uma pessoa? Elas têm seus direitos respeitados. É o mesmo país, a mesma realidade e essa polícia é eficaz. A brutalidade é incoerente. Mas investigação dá trabalho...

O QUE ACONTECEU COM VOCÊ DEPOIS DA PUBLICAÇÃO DE ROTA 66?
Essa questão... Eu não quero falar disso mais. Sofri muito com isso e não quero falar de ameaças. Fui muito perseguido na Justiça. Foram seis processos contra mim, fui absolvido em todos. Não quero mais falar porque essa questão não significa muito.

VOCÊ FREQÜENTOU DURANTE MUITO TEMPO AS FAVELAS DO RIO PARA ESCREVER ABUSADO. COMO A COMUNIDADE VÊ A POLÍCIA MILITAR?
De forma geral, a Polícia Militar do Rio de Janeiro representa o autoritarismo sem autoridade. As pessoas não têm seus direitos mínimos respeitados nas ações dos policiais nos morros. A violência está dos dois lados na favela, claro: na polícia e no tráfico. Essa história é uma loucura. Um tiro de fuzil é capaz de atravessar sete barracos de alvenaria. E atrás de traficante pode ter uma criança de 5 anos, uma senhora de 80. Mas para as autoridades quem mora no morro é bandido. E é evidente que não é assim, a maioria é formada por trabalhadores. E são todos bem informados. A sociedade não é partida como se diz. É partida só para os bacanas.

COMO ASSIM?
Quem é pobre e mora no morro tem duas vias. Ele desce para trabalhar. A gente que não sobe lá nunca para ver o que acontece, como deveríamos fazer. Conversei muito com os traficantes: quase todos têm a mãe empregada doméstica, o pai porteiro. Eles conhecem bem a vida na zona sul. No trabalho deles, dentro da casa dos bacanas, eles nunca viram a polícia agir da mesma forma. Um médico quando não emite nota fiscal numa consulta está roubando não só de uma pessoa, está roubando de todo mundo. É um crime gravíssimo. Por que o Bope não invade o consultório para ouvir uma confissão do médico que está sonegando? Fica esta pergunta: "Por que é legítimo agir com brutalidade em uma parte da cidade, não por coincidência onde estão os mais pobres, e não agir da mesma forma onde estão os ricos"?

QUANTO TEMPO VOCÊ FICOU NO MORRO SANTA MARTA PARA AS PESQUISAS DE ABUSADO?
Foram cinco anos de pesquisa. Claro que não em tempo corrido, por causa do meu trabalho. Se eu tivesse ficado lá em tempo integral, o tempo seria bem menor.

E COMO FOI SUA RELAÇÃO COM A COMUNIDADE E COM OS TRAFICANTES?
Foi tranqüila, como sempre é. A gente sobe o morro para fazer nosso dever, que é a cobertura dos fatos. Esse tempo foi bacana, intenso, parte da comunidade adora conversar com a imprensa – infelizmente a imprensa sobe muito pouco lá. Foi uma das reportagens em que eu mais aprendi coisas. Embora eu freqüente morros há muito tempo, não imaginava que o buraco era tão embaixo. Tinha gente contando sobre o cotidiano e sobre os crimes que cometeram. Me falaram coisas que nunca imaginei ouvir.

A COMUNIDADE TEMIA O BOPE?
Naquela época, o Bope tinha uma política de não matar. No período todo em que estive lá, os policiais do Bope nunca mataram ninguém. A polícia estava sob as ordens de Luiz Eduardo Soares (coordenador de Segurança, Justiça e Cidadania do Estado do Rio de Janeiro entre janeiro de 1999 e março de 2000). A política era de se respeitar no morro da mesma forma como se respeitava em qualquer outro lugar. O Bope estava atuando de forma eficaz, e o tráfico, na época, estava começando a falir. Houve uma ocupação pacífica e interessante no morro, pela polícia nessa época. Eu mesmo fui detido para averiguação e levado ao Bope para prestar esclarecimentos.

NINGUÉM ENFIOU PLÁSTICO NA SUA CABEÇA?
Não, naquela época eles não faziam isso.

A COMUNIDADE TEME MAIS A POLÍCIA DO QUE OS TRAFICANTES?
O que eles se queixam muito é da morte de inocentes, da criança de 9 anos, do jovem, gente potencialmente não envolvida com o tráfico. Digo potencialmente porque as ações não são feitas com pesquisa. É aleatório. "Eu acho que é aquele ali." Agora, acreditar que uma criança de 5 anos está envolvida com isso? Eu prefiro não. Prefiro acreditar que as pessoas são inocentes até que se prove o contrário.

QUAL SUA POSIÇÃO NA QUESTÃO DA LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS?
Não tenho opinião. Eu sou a favor de que as pessoas discutam isso. O quadro como está é muito ruim, e não discutir o problema é defendê-lo, é desejar a permanência dessa situação. Isso tem de ser discutido sem hipocrisia. Pessoas de todas as camadas sociais são usuárias de drogas, as ilegais e as legais. Há drogas legais que causam mais danos que as ilegais. É uma mudança complexa, que envolve questões bilaterais. Nossa discussão tinha de começar pela cachaça. É uma droga legal. E mata.

UMA DAS CENAS DE TROPA DE ELITE MOSTRA O CAPITÃO NASCIMENTO ESFREGANDO O ROSTO DE UM RAPAZ NO CADÁVER QUE ELES HAVIAM ACABADO DE MATAR. E DIZENDO QUE O CULPADO POR AQUILO ERA O RAPAZ, O MACONHEIRO?
O culpado pela morte é quem mata. Parece soldado americano falando no Iraque: "Te mato porque quero seu petróleo, você é culpado por sua morte". "



a entrevista inteira, aqui: http://vip.abril.uol.com.br/nova_vip/talkshow/271_caco.shtml





sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Donell Jones

Hoje estou aqui para homenagear Donell Jones, um artista que na minha opinião é maravilhoso.
Ele me foi apresentado a uns meses, e me apaixonei! Poucos conhecem seu trabalho. Isso porque nem todo mundo ouve R&B.
Seu 1º álbum foi em 1996 "My Heart". Ele já recebeu o título de um dos melhores compositores de R&B moderno. Também já escreveu musicas p/ artistas mais famosos (e não melhores que ele) como Usher.
Nem vou dizer "quem tem bom gosto vai adorar!", porque gosto não se discute. Prefiro dizer: espero que gostem...
:)
E quem gostar, 'popularize' o trabalho...

beijos

site oficial do Donell: http://www.donell-jones.com/

Donell no MySpace: http://www.myspace.com/donelljones


quinta-feira, 8 de novembro de 2007

O auxílio virá...




O problema que te preocupa talvez te pareça excessivamente amargo ao coração.
E tão amargo que talvez não possas comentá-lo de pronto.
Às vezes, a sombra interior é tamanha que tens a idéia de haver perdido o próprio rumo.
Entretanto, não esmoreças.
Abraça o dever que a vida te assinala.
Serve e ora.
A prece te renovará energias.
O trabalho te auxiliará.
Deus não nos abandona.
Faze silêncio e não te queixes.
Alegra-te e espera, porque o céu te socorrerá.
Por meios que desconheces Deus permanece agindo.


(Emmanuel)

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Menstruada

Sim, nossa alma menstrua. A alma fica fértil - algum momento, a gente é capaz de procriar. E descobre que mamãe estava errada: virar mulher não é ter cólicas nem usar absorventes. Sem perceber, a gente dorme criança e encontra a calcinha da alma encharcada. A gente vai decidindo tudo: o financiamento do carro, o armário de seis portas, aquela viagem há tanto tempo desejada... Sem perceber, a gente vai aprendendo a optar, e descobrindo, aridamente, que tudo é um grande jogo de escolhas.
Permitir intrusos, aceitar ofensas, abaixar a voz, engolir a mágoa, aquele filho que não fizemos, o casamento que não teremos, o porre perfeitamente escolhido, o banho quente no dia ruim. A alma menstrua. Algum momento, a gente se dá conta de que somos responsáveis pelo que nos causam. È dolorido, sim. A gente acorda mais molhada, mais doída, mais distante. Mais serena. Mais presente. No presente. De repente, acordei assim.
Acendi uma vela de sete dias (nem sei se por superstição ou vontade mesmo de que as escolhas sejam iluminadas), coloquei o lixo para fora, tirei aquele cara do caminho, me perdoei pela boa esposa que não consegui ser, senti saudade de um beijo antigo e leve, vesti meu cachecol, escolhi esmalte novo, comprei pipoca com bacon, porque já não é mais possível culpar este ou aquele.
Dei-me conta das limitações que são tantas. Dei-me conta das escolhas erradas, repetidas vezes. Dei-me conta do cansaço que me causo, do sossego que não me permito. Dei-me conta de que, sem perceber, a alma menstrua. E a gente acaba com cólica de si mesma. Do que permitimos aos outros, do que não nos permitimos. Enquanto a vela queima, vou queimando decisões erradas. Mas no fundo, ainda alegre, porque cedo ou tarde, seria preciso que essa alma sangrasse...
(Raquel Lemos)