quinta-feira, 25 de junho de 2009

Mulheres que falam demais

Dizem que as mulheres falam demais. Não há o que contestar, falamos pelos cotovelos, nos encontros com as amigas, nas reuniões familiares, ao telefone e nos aniversários, nas mesas de restaurantes e no salão de beleza, falamos. Puxamos conversa com a vizinha no elevador, discutimos o horror que está o preço das coisas, enfim, não ficamos nunca quietas, ao que parece. Mas nem tudo é o que parece. Mulheres gastam palavras à toa, mas economizam suas verdades mais uterinas. O que lhes grita dentro, não sai pela boca nem sussurrado. Não que tenhamos muito a esconder, mas temos muito a proteger: nossas contradições, nossas aflições, aqueles sentimentos todos que não são verbalizáveis. Mulheres calam demais. Calam mais do que homens, talvez por terem muito mais questionamentos, por serem mais ansiosas, por estarem sempre em estado de alerta, calamos o que nos perturba.

Homens são calados porque conseguem lidar melhor com o que lhes vai dentro, não se angustiam tanto, aceitam com mais resignação a vida que lhes foi oferecida ou a vida que conquistaram. Mulheres estão sempre pensando, colecionam interrogações: por que? e se? como seria? Sendo assim, tendo tanto a dizer e não dizendo nem metade do que nos corrói, calamos mais que todos, sim, mesmo falando e falando e falando. Bendito truque: falar para calar. Puxar os mais variados assuntos como meio de preservar o diálogo interior, para não macular nossa conversa com a gente mesmo, que ninguém deve ouvir. Falamos, aqui fora, de moda, novela, política, falamos umas das outras, acusamos e defendemos, falamos, falamos, discutimos as relações todas, com ele, com os pais, com os outros, interrompemos quando alguém opina, concluímos frases que nem são nossas: tudo porque mulheres em silêncio são perigosas. Muito mais do que quando falam. Mulheres em silêncio estão sempre tramando contra si mesmas.


(Martha Medeiros)

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