quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Solidão romântica




Por Stella Florence


Não se preocupe: eu não vou ficar discorrendo sobre a solidão romântica como se ela fosse uma tese de doutorado nem dizer que você precisa se amar para nunca se sentir sozinha (se o Colin Farrell te amasse também não seria nada mal, não é?). Da mesma forma, jamais direi que a falta que você sente do amor de um homem pode ser suprida pelo amor de (ou a) Deus, seus amigos ou seus animais de estimação. Por quê? Porque isso seria a mesma coisa que afirmar "quando você tiver fome, tome um banho": são necessidades diferentes!


Eu tenho náuseas quando alguém me diz, "Ora, por que você está triste? Você tem uma filha linda!". Sim, eu tenho uma filha linda que amo profundamente - e o que isso tem a ver com a dor de levar um fora? Posso chorar ou estou proibida pela patrulha do politicamente correto? Será que certos autores de livros de auto-ajuda vão me fuzilar num paredão por eu afirmar que não podemos substituir uma necessidade por outra?
A pílula da felicidade que eles não cansam de nos vender não passa de um placebo. A necessidade de algo que transcenda a matéria não pode ser substituída por uma ida ao shopping (e vice-versa) da mesma forma que o fato de alguém, como eu, ter uma filha linda, não substitui a dor que se sente ao ter o coração partido em duzentos e vinte e cinco mil pedaços. Usando português claro: uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.


Algumas pessoas apontam o trabalho voluntário como remédio para a solidão romântica. Não é. O voluntariado preenche a necessidade que temos de doação pessoal. Recomendo vivamente a manutenção dessa experiência riquíssima que abre horizontes e cria luminosas teias de simpatia. No entanto, repito, isso não substitui o roçar sedutor da barba mal-feita do homem que você deseja. Da mesma forma que o roçar sedutor da barba mal-feita do homem que você deseja não substitui sua necessidade de doação pessoal. Vamos ao mantra do dia? Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.


Só existe uma coisa que pode aliviar a solidão romântica: um romance. Só existe uma coisa que pode aliviar a falta que sua família faz: entrar em contato com ela. Só existe uma coisa que alivia a vontade de ter um animalzinho: adotar um. Cada necessidade no seu devido lugar, com o seu respectivo alívio. O resto é pílula da felicidade vendida por pessoas que se sentem tão sozinhas quanto eu e você - mas que, cá entre nós, têm muito mais dinheiro na conta bancária do que eu e você.

1 Pode comentar, eu deixo!:

Wynne Melo disse...

Nossa, ameeeeeeeeeeei o seu post!
É exatamente o que eu estou vivendo!
Que coisa, ñ?